sábado, 17 de março de 2018

Aquele moralismo forçado que mais parece fascismo


Imagem/fonte: https://www.maskparty.co.uk/pair-of-whitecream-tragedycomedy-masks--choice-of--headbands-or-ribbons-574-p.asp


Retorno para falar de um tema que estou pronto para ser criticado pelos “cidadãos de bem”. Peço aos leitores desculpas pela ausência, mas estive um tempo anestesiado observando o comportamento de certas pessoas nas redes sociais. Alguns amigos de longa data, outros simplesmente colegas no meu facebook, emitindo toda sua voracidade de falso moralismo repleto de ódio ao próximo. Colocaram as mangas de fora em prol de uma "sociedade livre de todos os males do mundo". Só esqueceram da autocrítica.

As redes sociais deram voz aos pseudomoralistas que entre quatro paredes, no conforto do próprio lar destilavam seu preconceito na frente das esposas, maridos e dos filhos, até mesmo ao lado de um colega vizinho sem prestar atenção nas abominações que regurgitavam. O resultado foi proliferar e colocar no mundo mais do mesmo. Gerações deploráveis que defendem até mesmo a ditadura, usando o Iphone 8 nas redes sociais, no intervalo entre um jogo no Playstation e um seriado na Netflix.


Essa gente ainda não viveu o mundo. Ganhou o mundo de mãos beijadas e agora estamos vivendo o ódio às classes financeiramente inferiores, aos que pensam diferente, por jovens que ainda não possuem pelos na face e adultos intolerantes. A indignação vem segmentada no século XXI. Abominamos tal partido e os outros são normais. Fechamos os olhos para as falcatruas de determinadas figuras. Que bela democracia!

O tipo de pessoa que vira o rosto para os gastos e benefícios exorbitantes e mais do que excessivos no judiciário e legislativo, e esbraveja contra o bolsa família deveria ser estudada por um alienígena mais evoluído. Ainda sonho com a vinda de um extraterrestre mais evoluído e talvez espiritualizado, que irá abduzir certas espécies de seres humanos para estudar como o indivíduo bípede caminha para trás.

Quando penso neste “cidadão de bem” e seu desejo por uma arma carregada caminhando pelas ruas como um Clint Eastwood nos filmes de Western, doido para descarregá-la em alguém, imagino que deve ser uma pessoa com desejos enrustidos, mas no fundo não passa de uma pobre alma que talvez não conseguiu nenhum afeto em sua existência. Ele quer tanto fazer justiça com as próprias mãos que ignorou certas instituições que fazem parte da segurança pública. Mas, querer que tudo funcione é difícil. Principalmente em um país como o Brasil que teve seus investimentos em educação e saúde reduzidos. A balança não equilibra dessa forma. É querer demais do povo.

Do jeito que as coisas vão, penso que existam pessoas que um dia irão reivindicar nas redes sociais o retorno da escravidão institucionalizada. Ela já existe, mas ainda tem que ser realizada por baixo dos panos. Para certos “intelectuais” só falta legalizar. Não vou me surpreender com um projeto desses na Câmara dos ratos. Virá com outro nome, talvez Neo sei lá das quantas, acompanhado de um tal Estado Mínimo, seguido de certas reformas que irão "ajudar o país a se reerguer". O pior é ver os maiores defensores desse tipo de abertura virarem candidatos de partidos. Querem mamar nas tetas da nação do mesmo jeito. 

Agora assassinaram uma vereadora, que lutava por um país melhor. O que dizer? Muita coisa! Mas, muita coisa mesmo! Que essa imagem seja exibida e reexibida por muitos e muitos anos, nas redes sociais. Que façam um especial que conserve a memória de Marielle, que levou cinco tiros em um cenário que se constituiu absurdamente. Você está incomodado com isso? Pois, se depender de todos os humanos, que são de fato humanos, ficará muito mais incomodado. E quando seu incômodo estiver extremamente desagradável, lhe sufocando, olhe para o crucifixo que o leva a igreja todos os sábados ou domingos e pense no homem que está na cruz, ainda chorando pelos absurdos que acontecem neste país, assombrado e gerenciado por corruptos. Talvez em algum momento você se envergonhe e chore pelas monstruosidades que compartilha. 

Um Presidente Americano certa vez, foi morto da mesma forma. A sociedade na época se indignou. Agora com a morte de Marielle muitos dizem no conforto de suas residências e escondidos atrás de um notebook, que há certo exagero. Duas figuras públicas que sangram vermelho. Existe diferença? Não era para ter, mas infelizmente, neste mundo tão preconceituoso e desigual, sim. 

Em uma metáfora importante debatida no texto de Georges Didi-Huberman, “Sobrevivência dos Vagalumes”, vemos que ainda existem seres de fato humanos que tentam trazer certa luz no meio de um horizonte de trevas. Esses seres se indignam com as soluções vazias e instantâneas tão difundidas neste momento soturno com os holofotes da ignorância. Há dias que preferem se calar diante da proliferação de mensagens e sentimentos tão negativos. Mas, se reerguem e continuam se manifestando como se tivessem a missão de levar conhecimento e paz aos ambientes. Que os vagalumes se multipliquem e forneçam em seus lampejos de luz a chama da esperança de um mundo mais humano. Mais Cristão.


Nenhum comentário:

Postar um comentário