George Frederic Watts - Descrença e esperança |
Há um tempo não escrevo, mas tentei compilar algumas coisas
importantes neste texto de fim de ano.
Dezembro chegou e mais um ano se finda. Tempo de olhar para
trás e fazer um balanço do que foi 2017. Tentar entender o que fizemos de nossa
vida. Acredito no misticismo de fim de ano, pois se encerra um ciclo e outro se
inicia. É um chover no molhado necessário, pois essa passagem de ano significa
que podemos recomeçar de uma forma melhor. Alguns devem tentar melhorar em
vários níveis, outros apenas corrigir algumas coisas que não saíram bem. É uma
reflexão do indivíduo consigo mesmo. Há aqueles que olham para trás com um
misto de vergonha e tristeza e existem os que se orgulham da aventura que fizeram.
O fato é que ainda estamos respirando e o jogo recomeça. E a
maioria quer jogar, ninguém quer ficar de fora. Participar e crescer, ter
perspectivas de futuro, estudar, debater, atuar no mercado de trabalho, ter
laços sociais mútuos e satisfatórios são fatores importantíssimos nesta
jornada. É claro que isso não se conquista de um dia para o outro e sempre
haverá percalços no caminho.
Émile Durkheim, célebre sociólogo francês, em sua famosa
obra “O suicídio”, explica que a abreviação da vida se constitui em um fato
social, diferentemente do que todos pensam, ser um ato íntimo. Durkheim explica
que o indivíduo suicida é uma pessoa que considera sua existência um fato
insuportável e as variáveis sociais são os principais fatores desta atitude. A
força e a fragilidade dos laços sociais são determinantes neste processo. E
quando Durkheim fala de laços sociais esses laços se estendem ao lado pessoal,
profissional, crenças religiosas etc. O fato é que o autor possui dois centros
de estudos em sua homenagem: um na Suécia e outro no Japão. Dois lugares com
altos índices de suicídio. Pelo nome dos países dá para perceber que o Suicídio
não tem relação com a pobreza. A ligação é muito mais profunda e diz respeito a
uma sensação particular de isolamento e de solidão. Não ter o que dizer sobre
si. Muito mais entristecedor do que ser o segundo lugar, muito mais
entristecedor do que ser derrotado em inúmeras competições é estar excluído da
sociedade, pois não jogar jogo nenhum é não existir na sociedade. Portanto, o
suicídio é uma questão social.
Você deve estar se perguntando o porquê de eu estar falando
isso neste texto de fim de ano?
Explico: A taxa de suicídios aumentou 12% nos últimos
quatros anos. O número de pessoas depressivas aumenta a cada ano. A indústria
farmacêutica vende milhões e milhões de remédios, pois a sociedade de consumo
que nós vivemos tem fome de alimentar o seu ritmo alucinante. Todos querem
jogar, todos querem ser felizes, todos querem mostrar que são capazes. Mas,
neste mundo, infelizmente, não há lugar para todos.
Existe uma gama significativa da sociedade que alimenta um
sistema cada vez mais desigual. Pessoas que vivem em ilhas isoladas
(condomínios de luxo, bairros elitistas) e que querem distância de outras
realidades. Indivíduos que possuem opiniões baseadas em superficialidades e
estereótipos criados pela mídia, transformados em dogmas inquestionáveis. E
neste processo algumas pessoas estão isoladas e depressivas. E algumas não
possuem o devido apoio ou acompanhamento. Jovens, executivos, profissionais
liberais, várias classes passando por tormentos imperceptíveis aos olhos dos
outros. Os casos da “baleia azul” são apenas alguns exemplos.
Há filósofos e pensadores debatendo tudo isso e questionando
a que ponto chegamos. Auditórios lotados de pessoas querendo alguma explicação
para tamanha angústia e ansiedade. A Ética é um assunto muito debatido no
momento porque há uma grande parcela da sociedade buscando evoluir e olhar às
suas próprias falhas. Isso é o lado bom e representa coisas muito importantes
para essa nova era. Representa indivíduos mais preocupados com o coletivo.
A lógica do novo século está passando por uma metamorfose
similar a uma furunculose. A infecção está saindo e vindo à tona no estrebuchar
dos corruptos, dos falsos moralistas, conservadores hipócritas, pseudo-religiosos
etc. Ainda estamos vivendo no século XX apesar de estarmos no século XXI. A
lógica de produção sem limites está sendo repensada pouco a pouco na
sustentabilidade outrora utópica. Mas as pessoas estão buscando mais
informações e elas estão por aí, basta direção.
Essa nova geração de pessoas antenadas, independente da
idade, é uma esperança de um 2018 melhor. Mesmo que vários indicadores preveem
um cenário caótico, com intolerâncias ideológicas, as pessoas que se informam e
querem mudanças em vários aspectos serão o bálsamo deste país. Ou se tudo der
errado, uma esperança para seguir em frente.